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sábado, 1 de setembro de 2012

Os Penicos



Algumas inovações dos tempos modernos são positivas e, com certeza, melhoraram paca a vida das pessoas. É o caso, por exemplo, das suítes, isto é, do banheiro e sanitário instalados no quarto de dormir. Foi um grande avanço que trouxe, indiscutivelmente, benefícios e comodidades incríveis. Além disso, reconheçamos, é muito mais prático e higiênico já que menos pessoas usam o distinto anexo.
Os da minha geração, alguns mais moços, devem se lembrar que antigamente, no nosso interior, o banheiro e o sanitário ficavam no fim da casa e, não raro, no muro. Altas horas da noite quando o cristão (ou ateu) sentia necessidade de se aliviar, tinha que atravessar um grande corredor e sair disparado até o quintal onde ficava o célebre "quartinho". Imagine a aflição quando a necessidade era premente. Pior era quando a "casinha" já estava ocupada. O jeito era procurar um cantinho do muro e ali se aliviar.


Bourdaloue Minton inglês em louça decorada do Séc. XVIIIBourdaloue* Minton inglês em louça decorada do Séc. XVIII

Bourdaloue francês em louça do Séc. XVIIBourdaloue* francês em louça do Séc. XVII


A felicidade - e bota felicidade nisso - é que, para evitar essas dificuldades de ter que dar o pique até à "casinha", havia um objeto precioso que fazia às vezes de sanitário. Eram os famosos PENICOS. Quem não se lembra deles? Mais: muita gente grande, creiam, fez uso deles. Os mais elitistas e os santinhos do pau ôco que gostam de falar difícil não pronunciavam a palavra penico, preferiam o termo urinol. E os mais antigos chamavam o popular penico de capitão. Foram objetos muito populares.


Penico de louça portuguesa


Os penicos só começaram a perder prestígio a partir da década de 60 com o advento das suítes e da instalação nas casas de mais de um sanitário. Um detalhe: havia penicos de várias cores e de diveros materiais: de louça, ágata, alumínio, flandre, plástico etc. Os mais caros eram os de louça, usados nas casas das pessoas mais abonadas, eram de louça e muitos deles floridos.A massa ficava com os mais baratos. O interessante é que houve época que havia quem consertasse penicos de alumínio, de flandres e de ágata. Algumas vezes quando havia apenas um furinho de nada se tapava com sabão.


Mas o espetáculo à parte, o momento de perigo da série, era de manhã cedo nas casas que havia muita gente. Quase na hora do café, havia a procissão dos penicos em direção ao sanitário. O cheirinho de mijo e de etc. se misturava com o do café. Um barato. Esse ritual de levar o capitão e seus comandados para o sanitário requeria muito cuidado, não se podia errar o passo, qualquer descuido, pimba!, "o precioso líquido" derramava no chão e era aquele melelê. Havia outro contratempo: era na escuridão muitas vezes a pessoa tropeçava no penico já cheio e, pronto, era aquele desastre, tinha-se que lavar e limpar tudo por causa da fedentina.


Penico de louça tradicionalPenico de louça tradicional


Tem mais: certa época alguns museus da Região para dar uma prova do valor do seu acervo histórico, incluiu alguns penicos de prefeitos, chefes políticos bispos etc. O penico assumia uma patente superior à de capitão, virou patrimônio histórico. Certa vez fui na casa de um novo-rico e vi uma caqueira até bonita, quando me acerquei dela era um capitão antigo, o sujeito dizia orgulhoso que um governador mijara nele. Uma glória.


Penico em porcelana Villeroy
Penico em porcelana de madame Pompado
Penico em porcelana inglesa


Naquela época, fim dos anos 50 e começo dos anos 60, os penicos também serviram para apelidar os bajuladores. A turma de corta-jacas que chegavam logo de manhã na casa dos chefes era apelidada de "tiradores de penicos". Um desses bajuladores chegou certo dia na casa do chefe, de manhãzinha, a empregada faltara, ele, claro, logo se ofereceu para tirar penico do chefe. Pegou o capitão todo excitado e, por azar, tropeçou na dobra de um tapete e, poker!, o penico virou em cima dele estava cheio e não só de mijo. O corta-jaca além de se sujar todo ainda levou uma descompostura do chefe.
No mais, amigos, eu tenho saudades do tempo dos penicos.


 

Blog do autor: Combate Popular:http://blogdewilliamporto.zip.net

 



 Um tipo peculiar de penico, o Bourdaloue, foi elaborado especificamente para o uso das damas. O formato retangular ou oval alongado do vaso, às vezes com a parte dianteira alta, possibilitava que a mulher urinasse de pé ou agachada sem grande risco de errar o alvo, o que também ajudava na redução da quantidade de roupa para lavar.

padree_louis_bourdaloueO nome “Bourdaloue” supostamente vem de um famoso padre católico francês, Louis Bourdaloue (1632-1704), que fazia sermões tão longos que as damas da aristocracia que o ouviam colocavam tais vasos discretamente sob suas roupas para que pudessem urinar sem ter de sair do lugar. Todavia, isto muito provavelmente é só uma lenda.

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(coleção de mais de 1300 penicos de 27 países) Um museu no mínimo exótico situado na Espanha
 Museu dos Penicos

 


Autor(a): William Pôrto

2 comentários:

  1. O museu dos penicos a que se refere está localizado em Ciudad Rodrigo, província de Salamanca.
    Ciudad Rodrigo está a 24 km da fronteira portuguesa de Vilar Formoso, sendo a primeira cidade espanhola depois de se passar a fronteira.
    Para além dos penicos tem algum mobiliário, como cadeiras peniqueiras.

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  2. Augusto Moutinho Borges6 de abril de 2013 às 20:46

    bom dia sou investigador de história das ciências e interessa-me o estudo dos objetos cerâmicos e em vidro relacionados com saúde e quotidiano, motivo pelo qual enviei a mensagem anterior sobre a localização do Museu dos Penicos, em Ciudad Rodrigo, em Espanha.
    Augusto Moutinho Borges

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