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sábado, 2 de outubro de 2010

PALÁCIO DE VERSALHES




Um mundo à parte: assim é Versalhes no final do século I8. Além do enorme palácio real, o local é composto por prédios anexos que abrigam toda a corte e servem de sede do governo. A 23 quilômetros de Paris e alheios à vida miserável da maioria dos franceses, os nobres vivem uma rotina de futilidades financiada pelos impostos cobrados da população. As 10 mil pessoas instaladas aqui (quase 3 mil membros da nobreza e, de resto, empregados e funcionários) gastam 6% de toda a arrecadação francesa. Quase todo o resto é consumido por dívidas militares e sobra muito pouco para os outros 19 milhões de franceses espalhados pelo país. Desinteressado de seu papel de governante, Luís XVI se mantém distante das atividades políticas.

A rainha, Maria Antonieta, distrai a corte com boa música, jogos e festas caríssimas que arrastam o país ao extremo da irresponsabilidade administrativa. Um dia na história do Palácio de Versalhes é suficiente para entender os motivos da revolução que viria em 1789, levaria os reis à guilhotina e poria fim à monarquia absolutista.

Saiba mais
www.chateauversailles.fr

OUI MADAME, NON MONSIEUR
Os empregados da corte vêm de famílias pobres e têm, entre outras obrigações, que recolher penicos e escarradeiras e despejar o conteúdo nas fossas do lado de fora do palácio. Mas trabalhar no palácio tem suas vantagens: a comida é farta e é possível subir posições dependendo do talento ou de favores. Em dias de festas, sem a presença de lacaios, os nobres urinam atrás das cortinas dos salões

CABEÇAS COROADAS

Grandes festas acontecem pelo menos três vezes por semana. Algumas duram dias e têm óperas e jogos nos jardins. Há também recepções mais íntimas, organizadas no Petit Trianon, a residência particular da rainha. Para se ter uma idéia, só os gastos ali somam 1 milhão de libras por ano. O rei raramente participa desses embalos. Ele leva uma vida quase reclusa em seus aposentos, com amigos, amantes e gatos

PEGA LADRÃO

Apesar da numerosa guarda real, é comum haver larápios e batedores de carteira infiltrados nas festas. Relógios, moedas e objetos valiosos somem com freqüência, até dentro dos aposentos do rei. Também ficam cada vez mais constantes as visitas de indigentes ao palácio. É uma massa faminta e indignada com a boa vida da nobreza que, um dia, fará eclodir uma revolução

PARADA DE SUCESSO
As artes recebem grandes incentivos da corte. Mozart e Salieri se apresentam em concertos semanais. Peças de teatro são financiadas pela rainha (quase 1200 foram encenadas nos 19 anos de reinado) e mais de 20 mil obras entre pinturas, desenhos e esculturas estão expostas no palácio. Pensadores e intelectuais também são respeitados e se tornam assuntos nas rodinhas. Trata-se de gente como Diderot, Rousseau e Robespierre

DIETA JÁ

Comer é uma festa. Aqui, um almocinho simples envolve dezenas de empregados, cerca de 40 bocas para alimentar. São pelo menos sete opções de pratos para cada um dos serviços: entradas, sopas, carnes, assados, vegetais e legumes, sobremesas, cafés, licores. Os pratos impressionam o paladar e os olhos. Num único dia, são consumidos 60 gansos, além de dezenas de peixes e outras aves em quantidade ainda superior

VERDE PARA POUCOS
Passear pelos canteiros dispostos em formas geométricas é uma das atividades mais comuns e prazerosas por aqui. O próprio rei Luís XVI costuma caminhar de 4 a 8 quilômetros entre os 132 quilômetros de ruelas ladeadas por árvores frutíferas. Para manter esse verde todo, além dos canais, lagos e fontes são necessários 3600 metros cúbicos de água por hora. Enquanto isso, apenas algumas dezenas de casas têm água em Paris

CUSTO DE VIDA

Manter-se em Versalhes é caríssimo: é preciso vestir-se de maneira luxuosa, ter dinheiro para os jogos de cartas, para as carruagens e os cabeleireiros. Enquanto uma família burguesa de vida mediana gasta 15 mil libras por ano, uma duquesa gasta a mesma quantia em um único vestido, bordado a ouro. Os burgueses – que negociam os tais tecidos – estão enriquecendo à custa dos caros hábitos da nobreza

CONSPIRAÇÃO
A pouca afinidade do rei Luís XVI com a política abre espaço a facções políticas afeitas a todo tipo de corrupção e intriga, as chamadas coteries. A convivência tão próxima de grupos divergentes cria um clima cínico nos salões, onde as conspirações são comuns e gestos e olhares estão sempre carregados de segundas intenções

Revista Aventuras na História

CURIOSIDADES SOBRE MARIA ANTONIETA DE AUSTRIA

 
 
 
Última rainha da França, Maria Antonieta (1755-1793) era uma lançadora de moda inquieta e contestadora. Chocou ao vestir calças, até então exclusivas dos homens. Deixou de lado os espartilhos de barbatana de tubarão e adotou peças leves para se aproximar dos camponeses. Quando queria exibir sua riqueza, surgia em público com vestidos suntuosos e penteados rocambolescos de quase 1 metro de altura. Para a historiadora francesa Caroline Weber, tudo isso faz de Maria Antonieta uma precursora das celebridades atuais, em especial a cantora Madonna. Autora do livro Rainha da Moda (Zahar), recém-lançado no Brasil, Caroline defende que a nobre foi pioneira em um comportamento que hoje é comum entre os famosos: "Ela fazia aparições estratégicas e vazava informações sobre seu modo de vestir para a mídia". Com isso, seu estilo alcançou as massas, a ponto de provocar protestos de damas ricas, que diziam que essa atitude colocava em risco as diferenças entre as classes sociais. Na entrevista, Caroline explica as maiores inovações trazidas por Maria Antonieta, antes que a Revolução Francesa de 1789 apeasse a monarquia do poder.

Entrevista com Caroline Weber

O que diferencia Maria Antonieta de outras rainhas da época?

Em primeiro lugar, ela foi a primeira figura real européia a descobrir que não era necessário seguir as tradições para ganhar o respeito do povo. Percebeu que o modo de vestir poderia ser o componente essencial de sua fama. Além disso, fez com que o mundo fashion ficasse acessível para pessoas de todas as classes.

Ela pode ser comparada a alguém?
 
Sim, à cantora Madonna. A rainha mudava constantemente sua aparência, ia dos penteados extravagantes aos rústicos camisetes que usava em seu retiro particular, passando pelas andróginas silhuetas masculinas de montaria. Ela se reinventava constantemente, uma maneira de manter o público curioso sobre sua próxima faceta. Também como Madonna, a rainha acendeu os debates nacionais sobre a sexualidade feminina.

Por que a rainha usou branco para ir à guilhotina, em 1793?

A escolha foi intencional. Era uma forma de se declarar, de maneira corajosa, como mártir e leal guardiã da monarquia. Com sua roupa, ela dizia aos revolucionários que eles haviam tomado a coroa, mas jamais quebrariam seu espírito.

Revista Aventuras na História

OS AMORES DE NAPOLEÃO BONAPARTE



Na marcha sobre o coração da Europa, o último grande imperador do Ocidente conquistou mais do que terra e glória: fez do poder uma arma de sedução. Descubra o general que só suas amantes conheceram

Lira Neto
A bela e jovem Caroline, de 16 anos, filha de madame Grégoire Colombier, logo notou que aquele tenente baixinho, magricela e de uniforme amarrotado estava caído de amores por ela. Tímido, envergonhado do sotaque estrangeiro, ele não tinha coragem de declarar-se. Limitava-se a acalentar uma paixão platônica, enquanto os dois colhiam cerejas na casa de campo da família dela, em Basseaux.
O rapaz confessava seus sentimentos apenas para o diário que mantinha trancado em uma gaveta no quartinho que alugara em Valence - a primeira cidade para onde fora mandado a serviço do Exército francês. “Sempre solitário entre os homens, volto para casa, para sonhar na solidão e entregar-me à força de minha melancolia”, escreveu ele. “Na verdade, o que faço neste mundo? Já que terei de morrer, não é mais lógico me matar?”, indagava-se, aos 17 anos, Napoleão Bonaparte.
Até então, jamais experimentara o calor dos braços de uma mulher. Como sabemos, o jovem Napoleão não escolheu o suicídio. Nos últimos dois séculos, sua história já foi contada de muitas formas. Ele foi desde o gênio militar que transformava derrotas certas em vitórias até o hábil político capaz de se tornar imperador de uma nação que, anos antes, havia levado seus reis à guilhotina.
Despido das armas e fora do trono, contudo, Napoleão era demasiado humano. E, para se entender a vida de um homem, poucos recursos são tão valiosos quanto conhecer o modo como ele amou suas mulheres.
O gato de botas
Napoleão nasceu em Ajácio, na Córsega, em 15 de agosto de 1769, ano em que a ilha, a oeste da atual Itália e antes pertencente ao estado genovês, acabara de passar ao domínio da França, após malograda tentativa de independência. “Nasci quando minha pátria estava morrendo”, diria ele mais tarde.
Do primeiro flerte, ainda nos tempos de escola, não guardava boas lembranças. Os colegas de classe não lhe perdoavam os olhares que lançava para a pequena Giacominetta, então sua companhia predileta nos intervalos do colégio. “Napoleone di mezza calzeta, fa l’amore a Giacominetta!” (”Napoleão de meias caídas é amante de Giacominetta”, numa livre tradução do italiano), tripudiavam os meninos, atiçando a ira do garoto, que respondia atirando-lhes pedras e palavrões cabeludos.
Quando tinha 10 anos, Napoleão foi enviado pelo pai para estudar na França. Aos 15, o jovem franzino foi admitido como cadete na Escola Militar de Paris, onde se formaria artilheiro em tempo recorde: dez meses, quando o normal seriam três anos. O rapaz havia renunciado às tentações da cidade e mergulhado com afinco nos estudos do Tratado de Matemática, do professor Bezout, um calhamaço de quatro volumes cujo conteúdo era a base do exame final para os aspirantes a oficial da artilharia.
Com apenas 16 anos, Napoleão já envergava o garboso uniforme de tenente do Exército francês. Sempre com a gravata amarfanhada e cabelos gordurosos, notariam as moçoilas casadoiras de Paris. As botas negras e sujas pareciam grandes demais para aquele par de pernas finas e curtas, o que lhe valeria o apelido de “Gato de Botas”, dado por uma jovem amiga, a futura escritora Laure Permon. “Sua pele era amarelada e parecia insalubre, os traços de seu rosto eram angulosos e marcados”, descreveria Permon em suas memórias.
Com tal estampa, não era de admirar que o jovem oficial ainda não conhecesse os prazeres do amor. Isso durou até certa noite de novembro de 1787, quando uma das muitas prostitutas que borboleteavam nas imediações do Palais Royal, no centro de Paris, foi abordada por ele.
O rapaz tinha 18 anos, mãos trêmulas e, a muito custo, depois de uma verdadeira sabatina - onde ela nascera, de onde viera, como perdera a virgindade -, convidou-a a deitar-se com ele. Para uma profissional do ramo, ficou óbvio que o primeiro cliente da noite era um homem inexperiente. “Eu a aborreci depois, com minha insistência para que não fosse embora”, confessaria um constrangido Napoleão nas páginas de seu diário.
Gigante e anão
Em 1789, aos 20 anos, enquanto as massas tomavam as ruas de Paris durante a Revolução Francesa, Napoleão pediu licença da corporação e voltou para sua terra natal. Lá, aproveitando-se da atmosfera libertária que varria o país, liderou um movimento que elevou a Córsega de região conquistada a parte integrante da nova França que surgia. “Foi ali que ele teve, pela primeira vez, a sensação de provocar acontecimentos, de fazer a história. Sensação totalmente nova, que o embriagou”, diz o historiador francês Max Gallo, autor da mais consagrada biografia de Napoleão.
De volta a Paris, Napoleão foi promovido a capitão com apenas 23 anos de idade. Um ano depois, após comandar um ataque bem-sucedido a forças britânicas que dominavam o porto de Toulon, no sul da França, ganhou o posto de general-de-brigada.
Foi a partir daquele combate que a soldadesca começou a reverenciar-lhe a audácia e a coragem. Contavam, com entusiasmo, sobre como ele ia à frente da tropa, exposto ao fogo inimigo. Mesmo após ter seu cavalo morto em batalha e ser ferido com um golpe de baioneta na coxa, havia continuado a lutar e, com a farda banhada em sangue, incitado seus soldados a seguir adiante.
Hábil estrategista e guerreiro arrojado, aquele homem de cerca de 1,60 metro parecia transformar-se em gigante no ardor do combate. Mesmo assim, diante dos olhares femininos, continuava a sentir-se um anãozinho.
Em um período de dois anos, propôs casamento a pelo menos meia dúzia de mulheres. Todas o rejeitaram. De nada adiantaram as aulas de dança e os cursos de etiqueta que fazia para tentar melhorar seu desempenho. Faltava-lhe tato para abordar as eleitas, mesmo as muito feias ou muito velhas.
A sexagenária madame Montausier, dona de um teatro e de um bordel em Paris, foi uma das que o rechaçaram. Já a quarentona madame Permon, mãe da jovem Laure Permon, não conseguiu evitar uma gargalhada ao receber a proposta de ser conduzida ao altar por Napoleão, que além da deselegância habitual passara a sofrer também com a sarna, doença adquirida nos campos de batalha. “Além do mais, tenho idade suficiente para ser sua mãe”, teria respondido a senhora.
Porém, naquela época, pelo menos uma donzela se apaixonou de verdade pelo general: Bernardine Eugénie Désirée, 16 anos. Contudo, para desgosto da jovem, o romance não foi adiante. O pai dela, François Clary, um negociante de sabão, já havia concedido a mão da primeira filha a José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão.
É verdade que o novo candidato a genro tinha uma carreira militar em ascensão. Mas Clary almejava algo mais que casar outra de suas filhas com um imigrante. “Já basta um Bonaparte em nossa família”, sentenciou o pai, insensível às lágrimas de Désirée.
A enxaqueca do general
Elegante e com uma aura de voluptuosidade, Josefina de Beauharnais era a viúva de um visconde morto na guilhotina durante a Revolução Francesa. Na lista dos que perderam a cabeça por ela, logo entraria também Napoleão. Para o general corso, casar-se com uma nobre representante do Antigo Regime significaria um passo a mais em sua gradual inserção na sociedade parisiense.
Aos 26 anos, Napoleão já era comandante-geral do Exército do Interior (em breve, suprimiria o “u” do sobrenome original - Buonaparte - com o objetivo de afrancesar-lhe a pronúncia). Para a balzaquiana Josefina, pouco importava se o general era seis anos mais novo que ela. Calculou que um casamento com o prestigiado comandante poderia significar a garantia de bem-estar para seus dois filhos, Eugène, de 14 anos, e Hortense, de 12. E o antes desleixado Napoleão agora estava mais apresentável, mantendo os cabelos limpos e as roupas salpicadas com água-de-colônia.
Em março de 1796, os dois se casaram. Na certidão, a noiva aproveitou para suprimir dois anos à própria idade, enquanto Napoleão tratou de acrescentar dois à sua. Mas o casal mal teve tempo de aproveitar a lua-de-mel: dois dias depois da cerimônia, o general foi enviado para dar combate aos austríacos, no norte da península Itálica.
Enquanto Josefina permanecia em Paris, esbanjando fortunas em recepções luxuosas, o marido enviava-lhe do front uma carta febril atrás da outra: “Beijo seus seios e mais embaixo, muito mais embaixo”, escrevia Napoleão, enquanto os canhões trovejavam ali perto. A esposa lia as declarações de amor e de desejo, guardava-as no criado mudo e quase nunca as respondia. “Meu marido não me ama. Ele me idolatra. Creio que acabará maluco”, confidenciava ela às amigas e ao novo amante, o capitão Hippolyte Charles - um homem que, segundo Josefina, além de experiente nas artes do amor, tinha outra qualidade que também faltaria a Napoleão: ele a fazia sorrir.
Em um dos intervalos da campanha da Itália, o general foi até Milão, onde Josefina havia combinado de esperar por ele. Mas esposa não estava lá. “Depois de quase desmaiar de consternação, o homem que conquistou o norte da Itália caiu doente, com enxaqueca”, diz outro de seus biógrafos, o americano Steven Englund.
Mesmo com o coração partido, o gênio militar fez os austríacos dobrarem os joelhos em derrotas sucessivas. Josefina viu Napoleão regressar à França em outubro de 1797, na condição de herói nacional.
Em pouco tempo, ele foi encarregado de comandar uma nova e ambiciosa expedição armada, dessa vez para o Egito. De lá, pretendia alcançar a Índia, então uma colônia sob o domínio da Inglaterra, o mais poderoso inimigo da França.
No Egito, consciente das traições de Josefina, Napoleão decidiu que era hora de dar o troco. Impressionou-se de imediato com a belíssima Pauline Fourès, de 20 anos, que se disfarçara de homem para poder acompanhar o marido, um tenente da cavalaria, durante a campanha militar.
O comandante despachou o tenente para uma outra missão e alojou a encantadora Pauline em uma casa bem ao lado de seu quartel-general. A jovem não resistiu aos assédios de Napoleão. “Foi a primeira mulher com quem ele se comportou como dono e senhor”, diz Max Gallo.
O general não fazia nenhuma questão de esconder o romance. Os próprios soldados passaram a tratar Pauline como “a soberana do Oriente” e “Cleópatra loura do general”. Ao mesmo tempo, Napoleão manteve um caso com a filha de um xeique, a egípcia Zenab (quando os franceses deixaram o país, ela teve a cabeça cortada por sua união com o general inimigo).
A campanha do Egito de 1798 não repetiu o êxito obtido na Itália (encabeçando a lista dos maiores reveses, a frota francesa de navios foi destruída pelo almirante inglês Horatio Nelson). Mas, para Napoleão, o pior golpe estava por vir: Josefina não estava em casa para receber o guerreiro no retorno do campo de batalha.
Bonaparte decidiu que o divórcio era a única saída honrosa que lhe cabia. Desta feita, foi a vez de Josefina cair desmaiada. De joelhos, pediu perdão ao marido, que, enfurecido, trancou-se no quarto sozinho.
Depois de horas de súplica, Napoleão deixou-a entrar. Abraçou Josefina e a perdoou. O general implacável capitulava diante das lágrimas de uma mulher.
O harém do imperador
“Minha única paixão, minha única amante é a França. É com ela que me deito”, proclamava Napoleão. Em breve, isso seria mais que uma frase de efeito.
Com o apoio do povo, que o saudava como herói nas ruas, planejou e executou um golpe de Estado que o levou ao poder, em 1799. Instituiu o Consulado, triunvirato exercido por ele e dois aliados de ocasião. Não demorou muito e se impôs como “primeiro cônsul”.
Estabeleceu uma nova Constituição, amordaçou jornais, eliminou potenciais adversários. Para completar, determinou que seu poder passaria a ser vitalício. Em 1804, oficializou o que já era realidade: restaurou a monarquia e, aos 35 anos, tornou-se imperador da França. Josefina foi coroada imperatriz.
Além de Josefina e da França, entretanto, Napoleão se deitava com outras. Ao lado de seu escritório, mandara construir uma alcova em que recebia as mais belas mulheres que seus assessores conseguiam encontrar nos salões da corte. Estas eram introduzidas no recinto com a recomendação de que o esperassem sob os lençóis, completamente despidas.
Entre amantes fortuitas, houve casos mais intensos. Entre eles, o que manteve com uma famosa atriz de teatro, mademoiselle Georges, a quem apelidou de Georgina. Quando o criado do imperador abordou a atriz pela primeira vez, ela ficou chocada com a obscenidade do convite. Mas, logo depois, sentiu-se honrada em visitar os aposentos íntimos do senhor mais poderoso da Europa - e, por conseqüência, de todo o mundo. “Mas continue a fazer cara de assustada, ele gostará disso”, sugeriu-lhe o criado.
Josefina sabia dos adultérios do marido, mas suportava em silêncio. Permaneceu assim inclusive quando Napoleão mostrou-se apaixonado por uma condessa polonesa de 32 anos. Maria Waleska havia sido encorajada pelos compatriotas - e pelo próprio marido - a seduzir o imperador francês.
O objetivo era convencer Napoleão a restituir a independência da Polônia em relação à Rússia, à Áustria e à Prússia (que dividiam entre si as sobras do antigo reino, desintegrado a partir de 1795). Maria Waleska aceitou a missão. Na primeira noite em que dormiram juntos, ele praticamente a violentou. Nem assim ela reclamou. Pelo contrário, apaixonou-se por ele. Chegaria a dar-lhe um filho. Algo que Josefina nunca conseguira fazer.
Divórcio e derrota
Com o nascimento do filho bastardo, Napoleão convenceu-se de que poderia, sim, gerar um herdeiro - até então, considerava a possibilidade de ser estéril, embora tudo indicasse que ele já era pai de outro filho ilegítimo.
Divorciar-se de Josefina se tornou inevitável. “Continuo a amá-la. Mas a política não tem coração, só cabeça”, teria dito à esposa durante o último jantar, segundo relato do barão de Bausset, administrador do palácio imperial. “A imperatriz, naquela noite, era a imagem da tristeza e do desespero”, escreveria Bausset, que diz ter visto Josefina dar gritos lancinantes prostrada em um tapete diante do marido.
Com base em documentos da época, a historiadora francesa Evangeline Bruce, autora de Napoleão e Josefina, reconstituiu a última cerimônia pública em que os dois apareceram juntos, na sala do trono. “Josefina estava determinada a ser lembrada para sempre como a mais encantadora, a mais cativante de todas as imperatrizes”, diz.
Diante dos súditos, Napoleão anunciou publicamente a separação. “Só Deus sabe o que essa resolução custou ao meu coração. Encontrei coragem para isso apenas na convicção de que minha decisão serve aos melhores interesses da França”, explicou ele, solenemente.
Josefina, por sua vez, esforçou-se para permanecer firme: “Com a permissão de meu querido e augusto marido, ao acatar tal decisão, orgulhosamente ofereço a ele a maior prova de afeto e devoção jamais dada a um homem nesta terra por uma mulher”. A seguir, comovida, entregou o resto de seu discurso de despedidas para que um ajudante-de-ordens acabasse de lê-lo.
Antes mesmo de divorciar-se de Josefina, Napoleão passara a procurar uma noiva de sangue azul para lhe dar um príncipe herdeiro. Encontrou-a na arquiduquesa Maria Luísa, a pouco formosa filha do imperador austríaco, dona de um par de olhos protuberantes, andar desengonçado e lábio proeminente.
Napoleão não se importou. “Não é preciso que uma esposa seja uma mulher bonita. Já em relação a uma amante, é o contrário. Uma amante feia é uma monstruosidade. Faltaria a ela seu principal, ou melhor, seu único dever”, havia escrito, anos antes, em uma carta ao irmão José.
A união de Napoleão e Maria Luísa, celebrada em 1810, selaria um armistício entre adversários ferrenhos, Áustria e França. Um ano depois, nascia François Charles Joseph Bonaparte, a quem por direito deveria caber o título de Napoleão II.
A chegada do menino fez Maria Luísa passar a reinar também sobre o coração do marido. “Tenho um filho. Sou um homem feliz”, escreveu Napoleão. Em carta aos parentes da Áustria, ela se mostrava igualmente contente: “Meu amor cresce a cada dia. Quando me lembro da ternura que este homem me dedica, mal posso conter as lágrimas”.
Tudo correu bem até que, em 1812, na Rússia, Napoleão viu seu idílio e seu império começarem a ruir. Acossado pelo rigoroso inverno russo, ele foi obrigado a bater em retirada diante das tropas do czar. Assim, abriu o flanco para seus inimigos.
Em 1813, Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria uniram-se e acabaram com a hegemonia francesa na Europa. No ano seguinte, Paris foi sitiada e Maria Luísa viu-se obrigada a abandonar a cidade. “Impediram-me de ir encontrá-lo. Disseram que, se preciso, usarão a força para deter-me”, escreveu ela, desesperada, ao marido.
Enfim chegara o dia de Napoleão provar o sabor amargo da derrota. Mas, para ele, era melhor pôr fim à própria vida que suportar o estigma do fracasso. “A morte não é nada. Mas viver vencido e sem glória é morrer todos os dias”, costumava dizer.
Antes de ingerir uma dose letal de veneno, Napoleão escreveu uma carta de despedida: “Você é quem eu mais amo no mundo. Minhas desgraças só me pesam pelo mal que fazem a você. Um beijo para nosso reizinho. Adeus, minha querida Luísa”.
Coração exilado
Napoleão só continuou vivo porque teve um acesso involuntário de vômito e expeliu o veneno. Após abdicar do trono, alquebrado, foi obrigado a partir para o exílio na ilha de Elba, próxima à Córsega.
Mais uma vez, Maria Luísa não pôde acompanhá-lo. Em março de 1815, Napoleão voltou à França e foi reconduzido ao trono. Durante cerca de 100 dias no poder, chegou a invadir a Bélgica, mas foi derrotado por uma aliança anglo-prussiana na célebre batalha de Waterloo, em junho.
Forçado a abdicar pela segunda vez, amargou novo e definitivo exílio em Santa Helena, uma ilhota dominada pelos ingleses, perdida no meio do Atlântico. Nascido numa ilha, Napoleão morreria em outra, a 5 de maio de 1821.
Com 51 anos, o general estava doente, obeso e deprimido. Como um de seus últimos pedidos, solicitou que, na autópsia, arrancassem-lhe o coração e o enviassem a Maria Luísa. Mas as ordens britânicas eram claras: Napoleão jamais poderia deixar a ilha - vivo ou morto, inteiro ou em pedaços.
Sem o coração do marido, Maria Luísa tratou de cuidar do seu. Ao saber da morte do general, casou-se em segredo com o ajudante-de-ordens Adam Albert Graf von Neipperg, seu amante austríaco.


BIOGRAFIA DE CASTRO ALVES


Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 14 de março de 1847 — Salvador, 6 de julho de 1871) foi um poeta brasileiro.
Nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia.

Suas poesias mais conhecidas são marcadas pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como "Poeta dos Escravos". Foi o nosso mais inspirado poeta condoreiro.

Sua mãe faleceu em 1859. No colégio, no lar por seu pai, iria encontrar uma atmosfera literária, produzida pelos oiteiros, ou saraus, festas de arte, música, poesia, declamação de versos. Aos 17 anos fez as primeiras poesias. No dia 10 de novembro de 1863 teria recitado os primeiros versos em festa no Ginásio Português.

O pai se casou por segunda vez em 24 de janeiro de 1862 com a viúva Maria Rosário Guimarães. No dia seguinte ao do casamento, o poeta e seu irmão Antônio José partiram para o Recife, enquanto o pai se mudava para o solar do Sodré.

Em maio, submeteu-se à prova de admissão para o ingresso na Faculdade de Direito do Recife sendo reprovado. Mas seria em Recife tribuno e poeta sempre requisitado nas sessões públicas da Faculdade, nas sociedades estudantis, na plateia dos teatros, incitado desde logo pelos aplausos e ovações, que começava a receber e ia num crescendo de apoteose. Era um belo rapaz, de porte esbelto, tez pálida, grandes olhos vivos, negra e basta cabeleira, voz possante, dons e maneiras que impressionavam a multidão, impondo-se à admiração dos homens e arrebatando paixões às mulheres. Ocorrem então os primeiros romances, que nos fez sentir em seus versos, os mais belos poemas líricos do Brasil.

Em 1863 a atriz portuguesa Eugénia Câmara se apresentou no Teatro Santa Isabel. Influência decisiva em sua vida exerceria a atriz, vinda ao Brasil com Furtado Coelho. No dia 17 de maio, Castro Alves publicou no primeiro número de A Primavera seu primeiro poema contra a escravidão: A canção do africano. A tuberculose se manifestou e em 1863 teve uma primeira hemoptise.

Em 1864 seu irmão José Antônio, que sofria de distúrbios mentais desde a morte de sua mãe, suicidou-se em Curralinho. Ele enfim consegue matricular-se na Faculdade de Direito do Recife e em outubro viaja para a Bahia. Só retornaria ao Recife em 18 de março de 1865, acompanhado por Fagundes Varela. A 10 de agosto, recitou O Sábio na Faculdade de Direito e se ligou a uma moça desconhecida, Idalina. Alistou-se a 19 de agosto no Batalhão Acadêmico de Voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 16 de dezembro, voltou com Fagundes Varela a Salvador. Seu pai morreu no ano seguinte, a 23 de janeiro de 1866. Castro Alves voltou ao Recife, matriculando-se no segundo ano da faculdade. Nessa ocasião, fundou com Rui Barbosa e outros amigos uma sociedade abolicionista.

Em 1866, tornou-se amante de Eugênia Câmara.

Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, social e moral, a da abolição da escravatura; outra, a república, aspiração política dos liberais mais exaltados. Data de 1866 o término de seu drama Gonzaga ou a Revolução de Minas, representado na Bahia e depois em São Paulo, no qual conseguiu consagrar as duas grandes causas de sua vocação. No dia 29 de maio, resolveu partir para Salvador, acompanhado de Eugênia. Na estreia de Gonzaga, dia 7 de setembro, no Teatro São João, foi coroado e conduzido em triunfo.

Obras:

Poesia

 
Espumas Flutuantes, 1870

 
A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876

 
Os Escravos, 1883

 
Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921)

 
Tragédia no Mar

 
O Navio Negreiro

 
Teatro

 
Gonzaga ou a Revolução de Minas, 1875

 
Fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Princesa Isabel e o fim do Império




Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846 e faleceu em Eu, na França, em 14 de novembro de 1921. Foi Princesa Imperial e regente do Império do Brasil por três ocasiões, na qualidade de herdeira de seu pai, o Imperador D. Pedro II e da Imperatriz Dona Teresa Cristina. Foi a primeira Chefe de Estado das Américas e uma das nove mulheres a governar uma nação durante  o século XIX. Cognominada Redentora, por ter abolido a escravidão no Brasil, ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono e segundo a Constituição do Império do Brasil de 1824.

A Lei Áurea extinguiu a escravidão no Brasil em decorrência das fortes pressões internas e externas, provocadas por políticas republicanas que acusavam a monarquia por ainda manter a escravatura. Os escravos continuavam a fugir e o exército deixara  de assumir o papel de capitão-do-mato. O trabalho escravo tornara-se  economicamente indesejável, frente à concorrência da mão-de-obra imigrante, esta menos dispendiosa e mais qualificada.   A  palavra Áurea vem do latim Aurum., cujo significado é "feito de ouro", "resplandecente", "iluminado. É utilizada para expressar o grau de magnitude das ações humanas. Há quem acredite, no entanto, que a Lei Áurea recebeu  tal designação por ter sido promulgada no dia  13 de maio, data do falecimento de Dom João VI, bisavô da Princesa, e não, como muitos dizem outros,  por ter sido assinada com belíssima pena de ouro, contendo 27 diamantes e 25 rubis.



O exílio da Família Real
Extinta a monarquia em 15 de novembro de 1889, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório Republicano, expediu, no dia seguinte,  a comunicando a deposição da dinastia  imperial e a extinção do sistema monárquico representativo. Nesse mesmo dia, o ex-imperador D. Pedro II  recebeu  ordem para que a família imperial deixasse imediatamente o Brasil.  Assim escreveu a Princesa Isabel em Memória para meus filhos: “no dia 16 às duas horas da tarde chegou a Comissão do Governo Provisório com uma mensagem a Papai exigindo sua retirada para fora do país”. A princesa Isabel relata que os filhos chegaram de Petrópolis, onde estavam, etc (...) “A idéia de deixar os amigos, o país, tanta coisa que amo, e que me lembra mil felicidades, fez-me romper em soluços. Nem por um momento desejei uma menor felicidade para minha pátria, mas o golpe foi duro”.
Atemorizada pelos acontecimentos, partiu a Família Real, ignorando  o futuro que os esperava. Ainda no porto, um oficial se dirigiu à Princesa, dizendo- lhe: “Vossa Alteza compreende que esta transformação era necessária”, ao que ela lhe responde: “pensava que se daria, mas por outro modo; a nação iria elegendo cada vez maior número de deputados republicanos e então, tendo a maioria, nos retiraríamos”.
Na madrugada do dia 17 de novembro de 1889 teve início o embarque da família imperial no navio Parnaíba e  transferência para o navio Alagoas, acompanhado pelo navio Riachuelo, enquanto estivessem em águas brasileiras. Diz Raul Pompéia, “culpa, tristeza e mesmo certa vergonha. Em vez da luz forte do sol, temos o escuro da noite, em lugar da recepção calorosa, a partida solitária, sob olhares escondidos. Assim seguiram para Portugal  aqueles que, a partir de 1808, transformaram uma colônia adolescente numa poderosa  Nação, evitando  a fragmentação do território conquistado, tal  como ocorreu no oeste do continente. Sem a Família Bragança o Brasil teria se transformado num conjunto de países muito menos poderosos.

Omissões históricas, preconceitos e discriminações 
 
Não se pode afirmar que o Brasil  tenha sido o último país a erradicar a escravatura, a não ser que se considere apenas as Américas no século XIX. Em entrevista publicada no Caderno Idéias do Jornal do Brasil, em 2001, o canadense Paul Lovejoy, professor da Universidade de York, pesquisador e autor do Atlas Histórico da Escravidão, comenta que a Nigéria, de onde vieram muitos cativos para o Brasil,  libertou os escravos nos anos 30 do século XX.  Outros países, como a Arábia Saudita e a Mauritânia, eliminaram a escravidão por volta de 1960. De acordo com o depoimento de Paulo Verger, famoso fotógrafo e escritor francês (Fundação Paulo Verger),  os negros africanos atacavam povos no interior da África, marcando com ferro incandescente  as iniciais do comprador nos prisioneiros. Tal como os europeus, eram traficantes riquíssimos , negociavam o  preço dos escravos e trabalhavam em navios tumbeiros. Os mais ricos fazendeiros utilizavam escravos em suas propriedades  africanas.

No livro de Alberto da Costa e Silva (in  Um rio chamado Atlântico, Editora Nova Fronteira ) , ex- presidente da Academia Brasileira de Letras e embaixador na Nigéria, o maior africanólogo em língua portuguesa,  revela peculiaridades e fatos históricos de uma África que ainda não conhecemos. Segundo ele, os escravos africanos  pertenciam aos reis e aos grandes do Daomé, reino africano situado na África Ocidental, e o tipo de trabalho pouco diferia do americano em dureza e crueldade. Na sua visão, o oceano Atlântico foi, durante os séculos da escravatura e nos primeiros anos que se seguiram à abolição, um rio largo e comprido que tinha como margens o Brasil e a África ocidental. O autor sustenta que a cultura africana é um dos alicerces da cultura brasileira, porém o modo de vida do outro lado do Atlântico também foi influenciado pelo Brasil. Há portanto necessidade de conhecer de forma documentada, as duas margens desse grande rio.
Por ser injusta e pouco democrática a distância social entre o Brasil negro e o Brasil branco, é natural que o imaginário do povo sobre a escravidão contenha distorções ideológicas, tornando-se necessário interpretar, com metodologia séria, a origem dos preconceitos e das discriminações existentes em nosso meio, para então introduzir os resultados obtidos nos livros didáticos que freqüentemente os omitem.

Em matéria publicada especialmente para a Folha de São Paulo, os jornalistas Leandro Naloch e Nei Lopes  analisam os enredos maniqueístas dos temas das escolas de samba que desfilam no carnaval, observando que neles os afrodescendentes  são sempre caracterizados como heróis libertadores, sendo todos os outros seus opressores. Exalta-se menos, ou raramente, o papel do negro na  formação do povo brasileiro e na miscigenação, sem mencionar que as mulheres negras compartilharam da intimidade dos grandes proprietários das fazendas, em cujas casas moravam e até tinham filhos com eles.
Os dois Brasis
É enorme a distância entre o Brasil moderno dos brancos e o  Brasil arcaico  dos negros. Nas palavras de Norberto Bobbio, “ao lado de um estado de poder visível, há sempre  um estado de poder invisível  que passa despercebido”. Cento e vinte anos depois da abolição da escravatura quais são as condições sócio-econômicas da comunidade negra no Brasil  ?  No momento em que tanto se fala das políticas públicas e dos sistemas de cotas no Brasil, basta entrar na sala das grandes universidades brasileiras, públicas ou privadas, para observar o grave problema ainda não resolvido pela república brasileira. Como dizia Joaquim Nabuco, "acabar com a escravidão não basta; é preciso abolir a miséria".
Estudo realizado na  Universidade de Brasília mostra que os professores brancos representam 99 % do quadro das universidades públicas brasileira, num país em que os afrodescendente representam 47% da população brasileira..Muito embora haja visíveis avanços no controle de preconceitos e discriminações de raça, particularmente após a Constituição de 1988, os ideais dos direitos humanos e da cidadania estão longe de ser alcançados. O banco de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que utiliza o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH/PNUD) , assim como dados provenientes da Fundação João Pinheiro, permitem comparar as condições sociais dos negros entre países e no Brasil. O IDH dos brasileiros negros coloca-se  na 107ª posição em 175 nações,  equivalendo  a  El Salvador e China, ao passo que os brancos brasileiros apresentam encontram-se  na 46ª posição nesse mesmo conjunto de nações !
Nas estatísticas apresentadas pela Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios - PNAD 2001, o rendimento médio familiar, per capitã, dos negros de todo o Brasil, foi de 1,15 salários mínimos, ao passo que o mesmo índice entre os brancos foi de 2,64 salários mínimos. A taxa bruta de escolaridade entre os negros brasileiros foi de 84% e a dos brancos de 89%. A taxa de alfabetização das pessoas maiores de 15 anos também apresentou variação positiva para o contingente branco (92,3%) - mais de 10 pontos percentuais superior ao ocorrido entre os negros, cujo índice de alfabetização foi de 81,8%. Lamentavelmente, no que tange ao indicador da esperança de vida ao nascer para o período 1990-1995,, a esperança de vida ao nascer foi de 70 anos para os brancos e de 64 anos para os negros.  
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2001, apenas 15,8% dos negros puderam concluir curso de graduação, enquanto entre brancos esse índice atingiu 53,6%.  No período entre 1992 e 2001, o número de crianças e adolescentes negros no mercado de trabalho foi duas vezes maior do que o de brancos, impedindo, obviamente, ascensão social pela educação. Agrava-se a condição dos brasileiros negros por ser insignificante o acesso a cargos com poder de decisão. Nas eleições de 1999 apenas 15 parlamentares negros foram eleitos entre as 513 cadeiras da Câmara do Brasil (2,8%).
Racismo como tema global
O conceito de direitos humanos tem sido apoiado por  convenções, tratados  e ratificações. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia Geral da ONU e assinada pelo Brasil na mesma data, ainda sob o impacto das atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, comprometeu-se a promover os direitos humanos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.Esse documento foi traduzido em 360 idiomas. Como tema global, publicou-se a famosa “Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial”, assinada pelo Brasil em 1966 e  ratificada em 1968, com decreto assinado em 1969. Nela se expressam as  liberdades fundamentais para todos, sem discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.
Um dos principais objetivos da Convenção é criar um povo unido, sem classificar os Brasileiros em função das raças ou das raças resultantes. Como aqui se sugere, é preciso estudar mais profundamente não apenas o que aconteceu no glorioso dia 13 de maio de 1888, mas também no dia 15 de novembro de 1889, no início da república. Talvez possamos nos aproximar cada vez mais dos ideais da cidadania expressa na Constituição de 1988 e, ao garantir a igualdade dos direitos humanos para todas etnias, contribuir para tornar ainda maior esta notável Nação.
Como consta na história documentada, creio ter sido essa a intenção do ato da Princesa Isabel, o que se comprova pela famosa frase “prefiro perder o reino do que não libertar os escravos”. Foi essa também a terna admiração expressa pelo Imperador, que se encontrava fora do Brasil, ao enviar-lhe um telegrama, onde se lia “Abraço à Redentora”.







Bibliografia
Barman, Roderick J., trad. de Luiz Antônio Oliveira Araújo, : Princesa Isabel do Brasil - Gênero e poder no século XIX.
Carvalho, José Jorge,  Inclusão étnica e racial no Brasil – a questão das cotas no ensino superior.
Cerqueira , Bruno da Silva Antunes de (org.), D. Isabel I a Redentora, Rio de Janeiro, 2006
Daunt, Ricardo Gumleton, Devaneios de uma época imperial, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,1970.
Schwarcz, Lilia Moritz, As barbas do Imperador : Dom Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
Racismo no Brasil: percepções da discriminação e do preconceito racial no século XXI / organizadoras Gevenilda Santos e Maria Palmira da Silva – São Paulo. Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.8:38
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*Nelly Martins Ferreira Candeias é Presidente do Instituto Históricop e Geográfico de São Paulo.